O sucesso de sistemas depende de inúmeros fatores interligados e um deles – bem básico – é o de conhecer muito bem os conceitos relacionados aos dados, informações, processos e objetivos de um projeto. Isto ainda é potencializado quando tratamos de sistemas gerenciais, desestruturados por natureza e, consequentemente, um campo fértil para interpretações diversas.

Não importa a extensão ou complexidade do projeto – sem o nivelamento conceitual e compreensão dos objetivos por todos da equipe, a probabilidade de problemas é 1.
Às vezes parece que a sofisticação de nossa época encobre questões fundamentais que, por serem antigas são taxadas de obsoletas ou, por outro lado, tão conhecidas que se inferem como “obviedade”.
Por falar em antiguidade e para ilustrar esta questão vamos reportar a um antigo analista de dados/informações chamado Sócrates, que viveu na Grécia entre 470 e 399 AC, ou seja há cerca de 2.400 anos. Ele usava um método denominado “maiêutica” (um nome meio complicado) mas acho que mais deglutível do que, por exemplo, “Head do Squad de Growth do Inbound Sales”.
Este método investigativo consistia em perguntas simples, com o objetivo de revelar contradições nas formas de pensar e conceituar de uma pessoa (ou organização). O objetivo era ajudá-las a pensar por si e repensar conceitos de forma permanente. Ele não oferecia respostas, mas ensinava a perguntar, questionar, analisar, fazer considerações críticas etc.
Este método milenar e suas derivações são usados até hoje em ampla gama de discussões para encorajar compreensão clara e fundamental dos assuntos. Sócrates não desejava provar que outros estavam errados, então era importante não ser agressivo nos questionamentos.
A chave para o método socrático era a humildade, o reconhecimento da possível ignorância mesmo entre os melhores conhecedores - inclusive ele próprio. A seguir uma simulação bem básica de um hipotético diálogo de Sócrates visando fazer com que uma equipe compreenda bem conceitos em um projeto de Analytics:
Diálogo 1
- Qual a margem geral da Empresa no ano passado?
- 10%.
- Qual o movimento de vendas no ano passado?
- A receita foi R$ 1 milhão.
- O que é movimento de vendas?
- O que vendemos no ano.
- Receita ou faturamento?
- Receita .... o que vendemos...
- Há diferença entre receita e faturamento?
- Faturamento é a nota emitida e receita o que entrou no caixa.
- Neste caso específico?
- Neste caso, na verdade, é o que foi faturado no ano.
- Bruto ou o líquido?
- Neste caso é o líquido.
- Qual a fórmula para calcular o faturamento líquido?
- Aí depende um pouco de cada área ...
- Nesta área, qual é?
- Aí depende se é para o mercado nacional ou exportação.
- A margem depende do faturamento?
. . . .
Observar que no diálogo acima não há incompetências mas indefinições e variações entre conceitos e denominações. É vital que a palavra ou sigla represente a mesma coisa para todos, inclusive, naturalmente, para os eventuais terceiros que atuam no projeto.
Com o tratamento cada vez mais sofisticado dos dados, gerando informações potenciais para cenários voláteis, é fundamental que se “entenda” o que está sendo “processado” e as relações de causa e efeito. O conteúdo deve corresponder ao rótulo e é necessário conhecer bem o conteúdo.
Então, não podemos desprezar aquilo que “todo mundo sabe” mas que nem sempre (vezes demais) é praticado.
Se um projeto não consegue responder perguntas simples, certamente não responderá muitas questões complexas. E não vamos esquecer da necessidade de uma documentação simples e efetiva, distribuída a todos os participantes do projeto (é óbvio...) e também comunicação, muita comunicação qualificada.
Poderíamos falar milênios sobre isto, mas voltando ao Sócrates:
Diálogo 2
- Qual o principal objetivo da sua vida?
- Ser feliz!
- O que é felicidade?
. . . .
*Artigo inspirado por Sócrates, que não escreveu sequer um livro. Sabemos muito sobre ele através de Platão (O Banquete) e outros pensadores através dos séculos.
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